Envelhecer

Tem sempre alguém em algum lugar lendo, ouvindo ou aprendendo alguma coisa pela primeira vez. Só me dei conta disso há pouco tempo. Sempre me perguntava: “Por que a TV é sempre tão repetitiva ao explicar coisas que já sabemos há anos?” Depois eu entendi que, para alguém, é a primeira vez.

Entender isso é ótimo, mas também é perceber que se já ouvimos tantas vezes é porque estamos envelhecendo e o mundo está começando a ser óbvio demais. As informações são sempre as mesmas e o “acontecer” é cíclico; a história sempre se repete, mas é sempre inédita porque aquilo só pode acontecer naquele determinado contexto. Louco, né?

Como faz para entender que aquela pessoa que você viu nascer, hoje já tem trinta anos, é profissional respeitado e conceituado, tem casa, filhos e responsabilidades? Como fazemos para entender que não é mais uma criança que está aprendendo e “ouvindo” aquela informação pela primeira vez? Estou achando bem difícil e olha que nem tive filhos! Imagine para quem teve filhos?

Eu ouvi minha mãe me dizer, um dia desses, dos altos 70 e poucos anos: “Eu gosto dessa nova geração de médicos, eles são curiosos!” É verdade e ela já entendeu o que eu demorei muito para entender: os melhores profissionais não estão apenas na geração que eu conheço e me identifico; grandes profissionais estão surgindo de um novo aprender. Um aprender mais conectado, mais globalizado, tão diferente dos meus dias de escola, sentada na carteira, apenas prestando atenção no professor. Hoje o aprender e o ensinar são outras coisas: podemos indicar um vídeo no YouTube para explicar de outra forma o que acabamos de ensinar, já que há múltiplas formas de aprender; podemos aprender com os nossos mestres no Twitter e no Facebook (sim, eu tenho alguns mestres lá esbanjando conhecimento e percepção da realidade todos os dias, como Sírio Possenti, Marcos Bagno, Paulo Chagas, Rosane de Sá Amado entre outros).  É possível aprender e ouvir coisas novas todos os dias nas redes sociais.

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Enquanto isso, vou absorvendo o envelhecer, o entender que novas gerações chegam, que os que vimos nascer não serão mais crianças e estão no mesmo processo do envelhecer. E confesso: para mim envelhecer está sendo um processo de percepção e eu digo percepção do mundo, daquilo que eu penso, daquilo que eu vejo, daquilo que eu aprendo. Porque, ouvir algo pela primeira vez nos faz perceber que mesmo envelhecendo ainda temos o poder de apreender o inédito.