Mais uma vez os nossos adolescentes sofrem: sofrem porque se sentem isolados do mundo, poque querem ser aceitos pelo seu grupo, porque apenas esse grupo o faz se sentir inserido no mundo. Mãe, pai, família já fazem com que eles se sintam vivos, mas apenas o seu igual o faz se sentir indivíduo no mundo. Isso é muito louco! Nossos adolescentes vivem procurando lugares seguros para aceitação social, local este que faça com que se sintam confortáveis como indivíduos. Todavia, é preciso que a imagem caiba e agrade aos padrões sociais do seu meio e, os atuais padrões de beleza são verdadeiramente cruéis, para algumas pessoas, inatingíveis.
Como falei em post anterior, eu fui gorda na adolescência (e sou até hoje!) e vivia buscando formas de emagrecer… Passava horas sem comer, depois comia demais porque estava ansiosa e infeliz, já que não conseguia emagrecer. Eu queria ser magra, estar magra para poder ter namorados e encontrar até meu “príncipe encantado”. Sim, eu acreditava no “príncipe”! Era os anos 1980! Os filmes “Garota de Aluguel”, “Ruas de Fogo”, “Dirty Dancing“, “Uma Linda Mulher”, entre muitos outros nos faziam acreditar que o cara ideal existia e chegaria a qualquer momento, para isso, precisaríamos estar lindas e magras… Não era fácil! As anfetaminas estavam chegando no Brasil e faziam milagres nas nossas vidas. As adolescentes que tinham problemas com a balança iam para os médicos que faziam “fórmulas mágicas” que faziam com que a gente perdesse peso sem ser escravas da academia.
Aconteceu comigo uma vez: por causa das espinhas, passei em um médico que me receitou uma medicação natural autoimune para que a acne melhorasse. De quebra, perguntou se eu precisava de fórmula para emagrecer… Lá fomos nós: consulta paga, médico conceituado na região, não tinha como não ser ruim. Ah! E ainda me receitou uma proteína para beber, acho que hoje seria como esses ‘whey protein‘. Eu fiz tudo direitinho: tomava a fórmula e o ‘auto nosódio’ para acne… Eu realmente comecei a emagrecer, a pele deu uma leve melhorada… Era para eu estar feliz, mas não estava. Sentia vontade de chorar o tempo todo. Minha mãe não entendia, eu não entendia, ninguém entendia. Um belo dia, minha mãe ficou tão brava que pegou a fórmula e jogou toda na bacia do banheiro e deu descarga. “Você não vai mais tomar isso! Depois que passou a tomar, vive chorando pelos cantos, vive infeliz. Por que está infeliz? Não tem motivo!”. Parei de tomar, voltei a engordar… O médico teve sua licença cassada uns dois meses depois. O que ele vendia nas fórmulas era ilegal. Foi uma loucura!
Nunca mais tomei remédio para emagrecer, mas fiz algumas dietas malucas e da moda (mesmo estudando o Técnico em Nutrição!). A gente é adolescente, é imediatista e quer resultado rápido.
Nesse meio tempo, conheci uma amiga que me contou que mantinha o peso com um segredo: ela comia tudo que tinha vontade e depois vomitava. E eu perguntei: “É verdade? Isso dá certo?” E ela respondeu que dava. Tentei uma vez, uma única vez, mas, depois que vomitei a minha garganta começou a queimar como fogo. Só de pensar em fazer isso de novo, não consegui. Tenho horror a sentir dor! Não conseguiria fazer de novo. Eu não sabia, mas o nome disso era bulimia. Ela continuou fazendo isso por anos. Em determinada época, foi internada às pressas: ela teve uma perfuração no esôfago por causa do suco gástrico, devido as reiteradas vezes que provocou o vômito.
Já a anorexia é algo muito mais complexo: a pessoa tem uma distorção do que vê no espelho. Ela sempre se acha mais gorda do que é. Eu diria que a “mente prega uma peça”, distorce a imagem do espelho (ou na foto) e a pessoa acredita no que vê, só que o que vê não é real. Essa ideia pode causar um distúrbio alimentar gravíssimo em que a pessoa para de comer ou desenvolve a bulimia. Sim, as meninas param de comer completamente, mentem para os pais e jogam a comida fora ou se os pais obrigam a comer, vão para o lugar mais próximo para vomitar. É real. Tem umas que não bebem nem água porque a água “incha”.
E, mais uma vez, tudo está interligado: a aceitação da imagem pelo grupo de social, o cyberbullying, o distúrbio de imagem ao não conseguir ver o que é real, a sociedade que prega que a felicidade mora no corpo perfeito. Tudo isso é armadilha para o adolescente que quer se aproximar ao máximo do sucesso social, custe o que custar.
Tudo porque, além de tudo, vivemos em uma sociedade gordofóbica, onde ser gordo é motivo de chacota (e isso não só na adolescência, em qualquer fase da vida adulta também!); onde o gordo tem dificuldade para comprar roupas e entrar no provador com um número menor porque a vendedora disse que ficaria linda a roupa nela, sentar em uma cadeira de restaurante, sentar no ônibus, ir à praia… São tantas as situações que passaria horas aqui falando. Sim, a sociedade é preconceituosa com gordos. Estamos ganhando espaço, sim estamos, mas a passos de formiguinha. Enquanto isso, precisamos de atenção aos jovens: se não tem visto sua filha comer, preste atenção; se ela come e vai ao banheiro, vá atrás; se ela pega para comer, mas não come na sua frente, fique atento. Não vá dizer que isso é frescura adolescente, não é. Estes adolescentes estão sendo bombardeados diariamente por informações, comportamentos sociais, que os levam a atitudes extremas. Não é frescura, é necessário sensibilidade da família e terapia psicológica.
Links: Gordofobia, Anorexia e bulimia.