Episódio 6 – Harry Potter e a Pedra Filosofal: revisitando o nóstos de Odisseu

Neste episódio convidamos a Profa. Dra. Lidiane Carderaro e conversaremos sobre a relação existente entre os mundos de Odisseu (literatura grega antiga) e Harry Potter (literatura contemporânea). Assuntos como a cicatriz, o retorno dos dois ao seu lugar de origem e outros aspectos são abordados nessa conversa enriquecedora.

Referências:

Informações sobre a pesquisadora: http://lattes.cnpq.br/7384880728387298

Textos científicos da dra. Lidiane: https://coimbra.academia.edu/LidianeCarderaro

ARISTÓTELES. Poética. (trad. Eudoro de Souza). Porto Alegre: Globo, 1966.

HOMERO. Odisséia. (trad. Carlos Alberto Nunes). Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1970.

ROWLLING, JK. Harry Potter e Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000.


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O Primeiro ano do Resto da minha vida… Parte 1

2018 foi o melhor ano da minha vida, realizei mais sonhos do que cabia no peito.

Comecei o ano de 2018 em Madrid, realizando o maior sonho de todos os tempos: ir à Europa. Passei à meia-noite em pleno oceano, voando de Air China, mas no meio do Atlântico. Amanheci em Madrid, eu me dei conta de mim na estação Ópera, comendo Mc Donald’s para trocar dinheiro… Sim, eu comendo no Mc Donald’s depois de 21 anos, mas era por uma boa causa: precisava trocar dinheiro.

Daquele dia em diante, até o dia 11/01, foi andando de 10 a 15 km por dia… Eu queria andar, conhecer, comer todas as comidas, beber todos os vinhos… Eu queria “deglutir a cultura europeia e regurgitar a cultura brasileira” (relembrando aqui o maravilhoso Oswald de Andrade e o seu famoso ‘Manifesto Antropofágico’). Eu queria todos os sabores, todos os cheiros, todos os lugares.

Fui ver a minha querida Giuliete que há anos eu prometia e desmarcava por medo. Medo de quê? Medo da língua, da cultura, do desconhecido porque era isso que uma viagem internacional era para mim: o desconhecido. Com ela, sorri muito, chorei também, matei as saudades e me diverti como há anos eu não conseguia me divertir. Voltei mais leve, mais feliz, mais confiante. E o melhor de tudo: o bônus de conhecer a linda espanholinha Sophie, filha da Giu e do Everson. Conhecemos o Parque Del Retiro, vimos os pavões e nos deslumbramos com aquele maravilhoso Palácio de Cristal.

No dia 03/01, ficamos em Madrid e foi dia de Museu. Foi dia de Picasso e Lautrec no Thyssen-Bornemisza; foi dia de ver Goya, Renoir, Cèzanne, Dali, El Greco (o preferido da Giu!), Caravaggio e Van Gogh.

Mas as descobertas não pararam na maravilhosa Madrid e, no dia 04/01, fomos (sim, fomos. Viajei com uma amiga que não quis se identificar!) para San Lorenzo del Escorial (a Giu foi nossa maravilhosa guia!!!), conhecemos o Monastério de El Escorial. Comemos, bebemos, andamos e conhecemos aquela maravilhosa biblioteca.

Dia 05/01 fomos para Córdoba… Ah!!! As laranjeiras das ruas de Córdoba, aquela juderia linda! As oliveiras da Catedral-Mesquita, a Torre da Catedral… Comer na Bodegas Mezquita… Que lugar!!!

Dia 06/01 foi dia de Sevilha… Ah! Aquela catedral, as ruas, a juderia (eu me perdi em todas as juderias que estive!). A Plaza de España!!!!!

No dia 07/01, ficamos em Madrid e foi dia de Museu, dessa vez, foi dia de Reina Sofia… Foi dia de ver o GUERNICA!!!! Foi dia de ver muito, muito Salvador Dali! Meu coração quase explodiu!!!

Dia 08/01 foi dia de Toledo; dia de Cervantes, dia de juderia (sim, mais uma juderia!) e de escalenas. Fomos para Catedral de Toledo (cheia de El Greco!!!) e seguimos um estranho pelos becos da juderia porque queríamos comer doces feitos pelas carmelitas descalças e aproveitamos para comprar brincos de arte toledana (vimos os ourives fazendo joias…).  Em Toledo também visitamos um Museu da Inquisição… Sim, somos doidas!

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Dia 09/01 foi dia de Barcelona…. Chegando lá, primeiro destino, Igreja da Sagrada Família (seguindo o conselho do Daniel Ferreira, fomos de manhã para ver aqueles vitrais…) e queríamos a Casa Battló, mas 25 euros de entrada não dá para pagar, né?

E, no último dia, fechamos com “chave de ouro”, finalizamos com a querida Giuliete, em Madrid.

Sem esquecer e para dar água na boca, deixo as fotos do que comemos e bebemos na Espanha…

Madrid, quero voltar!!!

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Lembrança amada da Espanha!

Todas as fotos são minhas!

Patrícia Andréa Borges

Envelhecer

Tem sempre alguém em algum lugar lendo, ouvindo ou aprendendo alguma coisa pela primeira vez. Só me dei conta disso há pouco tempo. Sempre me perguntava: “Por que a TV é sempre tão repetitiva ao explicar coisas que já sabemos há anos?” Depois eu entendi que, para alguém, é a primeira vez.

Entender isso é ótimo, mas também é perceber que se já ouvimos tantas vezes é porque estamos envelhecendo e o mundo está começando a ser óbvio demais. As informações são sempre as mesmas e o “acontecer” é cíclico; a história sempre se repete, mas é sempre inédita porque aquilo só pode acontecer naquele determinado contexto. Louco, né?

Como faz para entender que aquela pessoa que você viu nascer, hoje já tem trinta anos, é profissional respeitado e conceituado, tem casa, filhos e responsabilidades? Como fazemos para entender que não é mais uma criança que está aprendendo e “ouvindo” aquela informação pela primeira vez? Estou achando bem difícil e olha que nem tive filhos! Imagine para quem teve filhos?

Eu ouvi minha mãe me dizer, um dia desses, dos altos 70 e poucos anos: “Eu gosto dessa nova geração de médicos, eles são curiosos!” É verdade e ela já entendeu o que eu demorei muito para entender: os melhores profissionais não estão apenas na geração que eu conheço e me identifico; grandes profissionais estão surgindo de um novo aprender. Um aprender mais conectado, mais globalizado, tão diferente dos meus dias de escola, sentada na carteira, apenas prestando atenção no professor. Hoje o aprender e o ensinar são outras coisas: podemos indicar um vídeo no YouTube para explicar de outra forma o que acabamos de ensinar, já que há múltiplas formas de aprender; podemos aprender com os nossos mestres no Twitter e no Facebook (sim, eu tenho alguns mestres lá esbanjando conhecimento e percepção da realidade todos os dias, como Sírio Possenti, Marcos Bagno, Paulo Chagas, Rosane de Sá Amado entre outros).  É possível aprender e ouvir coisas novas todos os dias nas redes sociais.

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Enquanto isso, vou absorvendo o envelhecer, o entender que novas gerações chegam, que os que vimos nascer não serão mais crianças e estão no mesmo processo do envelhecer. E confesso: para mim envelhecer está sendo um processo de percepção e eu digo percepção do mundo, daquilo que eu penso, daquilo que eu vejo, daquilo que eu aprendo. Porque, ouvir algo pela primeira vez nos faz perceber que mesmo envelhecendo ainda temos o poder de apreender o inédito.

Amigos que mudam nossa vida – Parte 2

O ano era 2004 e lá estava eu de volta ao cursinho. Mais uma vez como bolsista (tal qual 1994!), dez anos depois.

Dessa vez, eu estava em um cursinho popular, apesar de ter feito provas em vários cursinhos para ganhar bolsa de estudos. Em um deles, a minha bolsa chegava a 90%, mas meu irmão, um dos fundadores desse cursinho popular, disse: “Estude lá e aprenda como pensam os uspianos”. Lá fui eu.

Eu já tinha 29 anos e queria voltar aos estudos. No ano de 2003, estudando sozinha, eu tinha chegado na lista de espera da Fuvest, mas fiquei beeeem lá atrás. Então essa era a hora de recomeçar. De novo, dez anos depois, na sala de aula.

Ao meu lado, sentaram duas mocinhas: uma bem falante e outra mais calada. Fizemos amizade. Elas duas eram amigas de infância e estavam juntas na empreitada de buscar uma universidade pública para estudar. Universidade Pública parece um sonho muito distante da gente quando estamos na escola, no cursinho, temos um sopro de esperança em conquistá-la. Tudo parece fácil e possível.

Passamos a conversar, a sentarmos juntas. Uma queria estudar História; a outra, Administração. A que queria estudar Administração não gostava muito de matemática. Portanto, perguntei: “Por que quer estudar Administração se não curte matemática?” Ela não soube responder, mas talvez, tivesse visto na Administração a forma de sobreviver no trabalho. Neste momento, dei para ela o mesmo conselho que recebi do meu irmão: “Faça Letras. Se quiser, depois, terá formação para fazer outra curso. Somos pobres, não podemos comer o pudim colocando a colher no centro que está quente, precisamos ir pelas beiradas”. Falei o mesmo para ela: “Preste Letras, depois, se ainda quiser fazer Administração, terá bagagem universitária para isso”. Ela, não sei por que razão, seguiu o conselho. Neste momento, a amizade ficou mais forte.

Eu estudava 24 horas por dia, só falava em vestibular, fazia todas as provas anteriores, resolvia todos os exercícios da apostila. Eu via o caminho da Universidade como único meio de ascensão profissional; como a única forma de poder “ganhar” mais. Em outubro, pirei. Enlouqueci mesmo. Na aula de Física, comecei a gritar com todo mundo. Fiquei enlouquecida com as pessoas que não levavam aquilo a sério e perdiam a oportunidade. A professora me tirou da sala e disse que eu precisava procurar ajuda, eu estava me cobrando demais. Procurei e comecei a tomar um remédio que me ajudou a retomar a concentração.

Entrou o mês de novembro: comecei a prestar vestibular em novembro e só terminei em janeiro. Só pulou o final de semana do Natal. Prestei, na sequência: Unicamp, USP, PUC, Unesp (recesso de natal!), USP (2ª Fase) e terminei com a Unibero (passei lá pelo Prouni – fui 1ª Turma do Prouni, mas, na época, também precisávamos prestar vestibular da instituição para poder ter direito à vaga).

Fizemos Enem e estávamos todos na média (menos o “cabeção” que estudava na turma que acertou TODAS as questões!) e aí, vai o professor e fala na sala de aula de um cursinho popular, de pessoas que vieram de escola pública e se esforçaram ao máximo aquele ano para preencher as lacunas de um Ensino Médio deficitário: “Se você acertou menos de 40 questões do Enem, esquece, você não vai conseguir nada!” Mais da metade da turma sequer voltou para as aulas, simplesmente, porque perdeu as esperanças. Como alguém se acha no direito de matar suas esperanças? Nós três continuamos lá, acho que nada mataria minha esperança (e olha que fiz 43 questões!).

Saiu a nota de corte da Fuvest. Eu consegui ir para segunda fase; minha amiga, não. Ela ficou desconsolada, não queria ir mais para o cursinho e eu só pedi que ela não desistisse. Ninguém tem o direito de matar nossos sonhos!

Ela prestou Universidade Estadual de Londrina e passou. Quando eu passei na USP, foi ela que conseguiu ver a lista dos aprovados; quando ela passou na UEL, eu passei em um cursinho, peguei a lista, vi o nome dela (ela passou em vigésimo lugar!!!) e liguei para ela contando. Ela me contou a minha vitória e eu contei a dela.

Passei na PUC em segundo lugar geral. Liguei para ela e contei e, o que ela me disse foi: “Eu te empresto a minha poupança para você fazer matrícula e pagar a primeira mensalidade”. Eu agradeci, não aceitei e respondi: “Pago o primeiro mês, mas e depois? E se não sair bolsa?” Que amigo faz isso por você? Tinha apenas um ano que nos conhecíamos e ela dá uma demonstração de amizade assim? Chorei por horas e sempre choro com isso quando me lembro.

Ela foi para UEL. Foi um começo bem difícil: ela estava sozinha, longe da família… Foi bem difícil mesmo, mas começou a se adaptar. Entrou para Iniciação Científica, fez amigos e começou a construir o futuro dela.

Em 2008 ela se formou. Fui para Londrina para ver a formatura dela e ficar feliz pela vitória dela. Fazia alguns anos que não nos víamos e passamos a noite acordadas conversando. Eu fiquei tão feliz! Ela tinha vencido.

Na sequencia, ela engatou o mestrado (e eu ainda nem tinha me formado!) e foi para dar aulas como temporária na Universidade Federal do Tocantins. Terminou o mestrado e, em 2018, obteve o doutorado. É professora de uma Universidade Federal, faz a diferença, transforma vidas diariamente; realiza sonhos de tantos alunos como nós fomos. Forma pessoas, forma professores, muda realidades de vida diariamente. É uma vencedora.

Em 2017, decidi tentar mais uma vez o mestrado. Pedi ajuda dela. Ela leu o meu projeto e me ensinou a escrever um projeto, mostrando o que era bom e o que era importante. Eu queria tentar várias universidades (há anos eu tentava entrar no mestrado e eu não conseguia!), ela pediu para eu focar. Pensei apenas na USP e ela perguntou: “Por que não tenta Unicamp?”. Respondi que achava que não tinha capacidade. A Unicamp sempre foi um sonho, desde a graduação; além do mais: o curso da Unicamp é avaliado em nota 7 pela Capes há muitos anos. E ela continuou incentivando que eu devia pelo menos tentar. Tentei. Fui passando de fase, sem acreditar que poderia chegar no final. Cheguei na entrevista e recebi um leve elogio do projeto, que estava bem escrito. E eu soube quem sem ela eu jamais teria chegado, não só porque ela me ajudou, mas porque ela teve mais fé em mim do que eu mesma.

Mais um brinde à amizade!

Amigos que mudam nossa vida – Parte 1

Há pessoas que entram e realmente transformam nossas vidas, essa é uma delas.

O ano era 1994, eu tinha pedido transferência do cursinho, já que morava na zona leste e fazia cursinho na zona sul. Eu entrei naquela sala lotada e só tinha um lugar ao lado dela. Sentei. Logo o professor de Geografia entrou, olhou para mim, e perguntou: “Estou na Unidade errada?” E eu respondi: “Não, eu é que mudei”. Ela me lançou um olhar desafiador e descobrimos: ambas gostavam de geografia.

Certa vez, o professor de história, Ruy Andrade queria doar dois livros que ele escreveu. Então disse: “Tenho dois livros para dar para vocês duas, não briguem! Um é de História do Brasil”. Falei “Eu quero!”. “O outro”, disse ele, “é de História Antiga”. Ela falou na hora: “Eu quero!”. Cada uma ficou com o livro que mais gostava e o professor disse: “Não teve briga?”. Respondemos juntas: “Não. Cada uma gosta mais de uma coisa”.

E assim nos descobrimos, cada uma gostava de uma coisa que complementava a outra. Ela passou na faculdade, eu não. Ela seguiu o caminho, mas nunca nos afastamos completamente. Ela foi morar fora e arrumou um tempo para me encontrar e contar. Saímos juntas e ficamos um tempo conversando. Foi muito bom. Ela fez um “família vende tudo”. Comprei algumas coisas (a grana era pouquíssima e eu queria ter comprado mais). Ela me deu dois presentes que guardo comigo: o cd da Madonna (I’m breathless) e um anel com o desenho de um coelhinho em lilás. Guardo até hoje.

Depois que ela se mudou (foi morar em Madrid), todo ano eu dizia: “Querida, vou visitá-la!”. No entanto, na hora de comprar a passagem, eu sempre desistia porque tinha medo: medo de viajar para Europa, medo de passar problemas por causa da língua, medo, medo, medo… Nunca tive medo, mas eu tinha de viajar para o exterior. Até que, outra amiga, disse: “Você precisa perder esse medo e ir!”. Pois então, fui. Contei para o marido dela: “Eu vou para Espanha.” E ele me respondeu: “Nem vou contar para ela porque você sempre desiste!”. Dessa vez, não desisti. Pisei em Madri no dia 1º de janeiro de 2018. Fui visitá-la no dia seguinte. Cheguei à casa dela e, na porta, já comecei a chorar convulsivamente: eu não acreditava que estava ali; que tinha vencido o medo do país desconhecido e que estava lá, com ela. Acho que chorei uns 15 minutos. Não conseguia parar.

E o tempo não tinha passado: estávamos lá, as duas, uma completando a frase da outra, uma sabendo o que a outra pensava e dizendo “De onde você tira isso!!!”. Essa viagem, vê-la, conhecer o país que ela mora foi a melhor coisa que já fiz na vida. Sonho quase todas as noites com os momentos que estivemos juntas, que nos divertimos. Passeamos muito, conversamos muito e nos divertimos muito. Foi a melhor coisa que fiz na vida!

Se você tem um amigo que gosta muito que esteja longe, vá visitá-lo. Nada nesse mundo paga a experiência de viver uma amizade tão incrível!

Eu a amo por tudo que vivemos juntas, por todas as histórias malucas, por todas as piadas e por todo divertimento. Um brinde à nossa amizade!!!